Por que tantos suicídios na Polícia Federal?
Recente pesquisa feita por este
jornal (edição de 18 de março) mostrou que 42 policiais federais
cometeram suicídio entre 1999 e 2015.
O número assusta, pois para o povo esta
profissão parece ser uma das mais cobiçadas, seja pelo “status” que
confere, seja pela importância que tem hoje, seja pela cômoda
remuneração, que a concorrência nos concursos demonstra.
A Polícia Federal paga pesado tributo
pelo seu estafante trabalho. Pesquisa realizada pela Universidade de
Brasília (UnB), já em 2013 revelava que “a depressão e a síndrome do
pânico são doenças que atingem um em cada cinco, dos agentes da Polícia
Federal. Em um tópico da pesquisa, 73 policiais foram questionados sobre
os motivos das licenças médicas, 35% dos entrevistados responderam que
os afastamentos foram decorrentes de transtornos mentais como depressão e
ansiedade. Nos últimos dez anos, 22 agentes da Polícia Federal
cometeram suicídio, sendo que 11 deles aconteceram entre março de 2012 e
março deste ano. Uma média de quase um morto por mês” (blog “Diário do
Poder” do jornalista Cláudio Humberto, 19/10/2013).
Entre março de 2012 e março de 2013, o
número de policiais federais que se suicidaram assustou a corporação
brasileira: 11 no total. Praticamente um por mês. Nos últimos anos,
estudos, pesquisas e levantamentos demonstram que as questões ligadas à
saúde psicológica dentro da Polícia Federal são preocupantes. Os
sindicatos de diversos Estados do país denunciam o sucateamento da
categoria.
Só para exemplificar, em junho de 2014, o
delegado Eduardo Jaworski Lima, de 39 anos, foi encontrado morto em
pleno ambiente de trabalho, no Mato Grosso do Sul. Diagnosticado com
depressão, ele passava por tratamento, mas não estava afastado do cargo.
Longe da mulher, também delegada federal, e da filha de dois anos,
tirou a própria vida. Estresse, alcoolismo, ansiedade, depressão e
síndrome do pânico afetam muitos servidores. Dentre 11 mil policiais
entrevistados na época, dois mil afirmaram tomar algum tipo de
medicamento para tratamento psicológico e psiquiátrico, de acordo com a
Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). O órgão denuncia a
precariedade no setor: oficialmente, existem apenas um psiquiatra e
cinco psicólogos para atender toda a PF.
O assunto dos suicídios intrigou a
delegada federal Tatiane da Costa Almeida, que levou a questão para fora
do país ao defender a tese de mestrado “Quero Morrer do Meu Próprio
Veneno”, no Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal. Para dar
consistência ao trabalho acadêmico, ela entrevistou policiais federais e
desenvolveu um questionário, que, posteriormente, foi aplicado a dois
mil alunos da Academia de Polícia. A ilusão com a rotina da profissão é
um dos pontos que provavelmente deprime o policial recém-ingressado na
corporação. “Quando estamos na academia, vivemos um mundo cheio de
coisas novas. Aprendemos a lutar, a atirar, nos acostumamos com a
agitação. Quando você começa a trabalhar, não existe todo esse
dinamismo”, frisa.
Muitas vezes, o trabalho da PF é
burocrático. Para a delegada, o inquérito policial é o maior exemplo de
procedimento desprovido de “aventura”. O curso feito na Academia de
Polícia dura cerca de cinco meses e só pode ser realizado em Brasília. O
desempenho nas aulas implica na aprovação ou não do candidato. E isto
já é estressante. É nessa primeira etapa que se inicia um dos grandes
agravantes da profissão: o isolamento. “Ficamos internados. Só podemos
sair aos fins de semana. Todos ficam longe da família e dos amigos”, diz
ela. O próprio site da Academia confirma a informação: “Para que os
objetivos pedagógicos sejam alcançados, os alunos estão sujeitos a uma
intensa rotina, sob regime de semi-internato, das 7h40 às 19h30, de
segunda a sábado”.
A aprovação na PF não facilita a questão
da distância, já que as primeiras ações acontecem em lugares inóspitos,
como a Região Norte do país e as fronteiras. “Na falta de coisas
agitadas pra fazer, o policial acaba ficando deprimido”, diz Tatiane.
Para o diretor-adjunto da Fenapef, Flávio Werneck, o isolamento faz
parte da profissão e não pode ser visto como motivo principal. A
precarização do trabalho parece ser mais grave. “Quando você é mandado
pra cidades de fronteira do Brasil, você não recebe apoio nenhum do
departamento”, destaca. “Você vai às suas custas, tendo de pagar,
inclusive, sua passagem pra ir lá. Você chega à cidade sem suporte pra
moradia, hospedagem. Não te explicam o dia a dia do lugar, quais os
riscos operacionais que você vai correr enquanto policial federal. E não
tem um acompanhamento psicológico e psiquiátrico regular.” Nem sempre
os casos de suicídio são divulgados na imprensa. Em nota, a Fenapef diz
acreditar que um acontecimento desencadeie o outro, “como se os
policiais tomassem coragem para tirar a vida também”. O tema é complexo.
A própria assessoria de imprensa da PF se recusou a fornecer o número
de policiais que tiraram a própria vida.
Na sua tese, Tatiane da Costa Almeida
diz que “O número de psicólogos tem diminuído, porque agora a polícia
está num sistema integrado de saúde junto com todos os órgãos do
Executivo e talvez, devamos repensar e colocar mais psicólogos
trabalhando diretamente com os policiais.” A terceirização também pode
ser um agravante na relação médico-paciente. “O policial é muito
isolado, muito desconfiado. Talvez ele tenha dificuldade pra falar com
psicólogos que não sejam do quadro da polícia. Seria interessante termos
um médico que conheça melhor o dinamismo do nosso órgão.”
Fruto de uma especial combinação de
fatores negativos, internos e externos, o suicídio nunca foi uma
tragédia de fácil explicação para a área médica nem para estudiosos da
vida social. Lembrando que toda sociedade, em qualquer época, tem como
finalidade essencial defender a vida de seus integrantes, o sociólogo
Émile Durkheim (1858-1917) demonstrou que o suicídio é a expressão mais
grave de fracasso de uma comunidade e que raramente pode ser explicado
por uma razão única. Ainda que seja errado apontar para
responsabilidades individuais, a tragédia chegou a um nível muito
grande, o que cobra uma resposta de cada parcela do Estado brasileiro
que convive com esse drama.
O certo é que é preciso que envidemos
esforços para dar tranquilidade e sobretudo condições adequadas a esses
heróis anônimos, que estão mudando a face do Brasil, pois é patente que o
próprio Governo, por baixo do pano, vem solapando a Polícia Federal
para que as podridões não venham a lume.
E, sem trocadilho, esta recente operação “Carne fraca” mostra que a podridão é uma realidade, em número, gênero e grau.
(Liberato Póvoa, desembargador
aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e
da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de
Imprensa – AGI -, escritor, jurista, historiador e advogado,
liberatopovoa@uol.com.br)
Suicídio entre policiais federais é seis vezes maior do que a média brasileira
Associação de agentes quer um programa especial de prevenção dentro da instituição
O presidente do sindicato Sally, abriu o seminário sobre suicídio
Celso Garcia/Sindpolf-SP
Além da experiência pessoal do dirigente sindical, o encontro foi motivado pelo aumento no número de suicídios na categoria. O índice é seis vezes maior do que a do restante do País. Com um salário inicial de R$ 7.500 e um concurso de acesso dificílimo, com provas e testes físicos, a carreira de agente da polícia federal, considerada a elite das forças policiais do País, também possui um lado sombrio.
Entre 1999 e 2015, foram registrados 42 casos de suicídios. Nos últimos cinco anos do levantamento, foram 20 casos, o dobro do período de cinco anos anterior. O último ano em que não ocorreu nenhum suicídio de policial federal foi em 2004.
"São números que estão subestimados. Os casos de suicídios podem ser ainda maior. Por exemplo, há casos em que o agente 'busca a bala' durante uma operação. Na estatística, aparece como morte em ação, mas existiu ali o impulso suicida. Alguns agentes já comentaram sobre isso e não se sabe de fato quantos casos foram", disse o psiquiatra Roberto Tonanni de Campos Mello, da superintendência da Polícia Federal de São Paulo.
Segundo o médico, há sinais, que podem ser observados pelos colegas de trabalho, que indicam uma potencial situação de suicídio. "Fundamentalmente, é alguma mudança de comportamento. O convívio muda e sai do padrão. Alguém que, repentinamente, ficou mais quieto, começou a faltar no serviço. Era mais expansivo e ficou mais calado. Algumas situações são sutis. Mas aí entra a questão da constância. Deixa de ser apenas um dia ruim e passa a ser um comportamento rotineiro", disse.
Para o presidente do sindicato, os casos de suicídio entre policiais federais têm, em parte, relação com a atividade profissional. "A Polícia Federal é o serviço público onde mais ocorrem suicídios. Se comparar como se fosse um país, a PF seria o sétimo no ranking mundial, enquanto o Brasil é o 111º. É uma atividade muito estressante e cheia de pressão. O agente sofre muito assédio moral e isso gera muita desmotivação. Não houve uma restruturação da carreira. Desde que a Polícia Federal passou a exigir nível superior, a nossas atribuições continuam sendo complexas, porém, não houve uma adequação. A perseguição da chefia também é um fator que abala emocionalmente os agentes", disse Sally.
Para comprovar o ponto de vista, Sally lembra que as ocorrências de suicídios aumentaram a partir de 2011. "Foi quando começou a reinvindicação pela reestruturação da carreira. E em 2012, foi quando aconteceu a greve de quase 70 dias. Por conta da greve houve muita perseguição das chefias em cima das pessoas que participaram do movimento grevista", afirmou Sally.
Evitável
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No mundo, ocorrem cerca de um milhão de suicídios por ano, maior do que
o número de mortes em guerras. "Mais de 90% deles seriam evitáveis. É
um problema de saúde pública que pode ser evitado com os devidos
cuidados relativos aquela emergência. Se tem alguém do lado percebendo
as mudanças de comportamento e começa a conversar, aquele processo que é
o suicídio pode ser evitado", Robert Gullert, presidente do CVV
(Centro de Valorização da Vida).A conversa, segundo Guellert, é fundamental no processo para se evitar um suicídio. "Nunca é um ato isolado, é um processo que vai corroendo, corroendo até chegar numa falta de alternativa. A saúde mental e a saúde emocional tem a ver com escolhas. Saber que tem saída. Por outro lado, a pessoa muito desesperada não enxerga a saída sozinha. Falar sobre o assunto é uma maneira de tirar o estigma", disse.
Há dois anos, o CVV trouxe para o Brasil o "Setembro Amarelo", mês escolhido para os debates e orientações sobre o combate ao suicídio. "É uma questão fundamental de saúde, 17% da população mundial vai pensar em se matar alguma vez na vida. É um quinto da população. Não é uma anormalidade. Na vida, às vezes, a gente pensa em desistir, mas se você não tem com quem falar, não tem ninguém do lado, não procura ajuda, acaba se matando mesmo. O caminho então é falar, é procurar ajuda para evitar a tragédia", disse.
Meios à mão
Outra hipótese que pode explicar o alto índice de suicídios entre os policiais e o acesso à armas de fogo. "Assim como a classe médica que também tem acesso aos remédios que podem levar à morte, os policiais, de um modo geral, estão próximos às armas de fogo", disse.
Desde 2014, está em vigor uma norma na Polícia Federal que recolhe a arma do agente em casos de afastamento do trabalho por conta de alguma doença da categoria F, do CID (Código Internacional de Doenças), que inclui as patologias por doenças mentais.
"No passado, foram apresentados outros projetos de prevenção ao suicídio, mas que não saíram do papel. O atual superintendente da PF está muito disposto em implantar o programa biopsicosocial dentro da PF, criado em 2009. Vamos colaborar para implantá-lo este ano", disse Sally.
Nesta sexta-feira, 24, a partir das 9h, acontece a segunda rodada do encontro de prevenção ao suicídio no auditório da sede da Policia Federal, no bairro da Lapa, na zona Oeste da capital, com palestras do Robert Gullert, presidente do CVV; da psicóloga Ruth Lasas Long, da Polícia Federal e do psiquiatra Marco Franco Ribeiro, da Polícia Federal. O evento é gratuito.
https://noticias.r7.com/brasil/suicidio-entre-policiais-federais-e-seis-vezes-maior-do-que-a-media-brasileira-24032017
Geral
Pesquisa mostra que 42 policiais federais se suicidaram entre 1999 e 2015
- 17/03/2017 17h20
- São Paulo
Flávia Albuquerque – Repórter da Agência Brasil
Um levantamento feito pelo Sindicato dos Servidores Públicos
Civis Federais do Departamento de Polícia Federal do Estado de São Paulo
(Sindpolf-SP) revela que entre 1999 e 2015 houve 42 casos de suicídio
entre policiais federais. Os dados foram entregues à Polícia Federal e
discutidos hoje (17) no 1º Encontro de Prevenção ao Suicídio, na sede da
Superintendência da Polícia Federal em São Paulo.
Mais da metade dos casos ocorreu em apenas em cinco anos: entre 2010 e 2015, foram 24 suicídios e sete tentativas. Entre 1999 e 2004 foram oito casos e entre 2005 e 2009, dez. Entre 2002 e 2004 não foram registados casos, mas o destaque fica para o período de 2010 a 1014 no qual houve 22 suicídios, sendo que só em 2012 oito policiais tiraram a própria vida.
“O suicídio é algo muito sensível na área da segurança pública e a Polícia Federal é o serviço em que há mais casos. Falar na razão que leva a pessoa ao suicídio é complexo porque é um conjunto de fatores, mas, sem dúvida, no caso da Polícia Federal, tivemos perseguição e briga interna por cargos, e nós não temos plano de reestruturação dea carreira. Isso faz com que o profissional se desmotive e há também o assédio moral”, disse o presidente dos Sindipolf-SP, Alexandre Santana Sally.
Além disso, Sally destacou o risco inerente à profissão e a percepção da sociedade sobre o trabalho do policial. “Na época da repressão, [a PF] era um braço do governo e com a Constituição de 1988 começou a ocorrer uma renovação do quadro ao longo do anos. Houve uma evolução, e a polícia hoje não é somente repressora, e sim cidadã. [Tem papel] de proteção e prevenção, só que o cidadão ainda se atém à repressão e à tortura. Para nós, que estamos na rua, tem um reflexo emocional muito grande.”
Profissões de risco
Segundo o psiquiatra Roberto Tonanni de Campos Mello, que atua na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, médicos e policiais têm maior incidência de suicídio do que profissionais das demais categorias porque ambos têm os meios para fazer isso. “O médico sabe usar o remédio para acabar com a própria vida e os policiais têm a arma como um recurso fácil. Aqui na Polícia Federal houve uma série de ocorrências que mobilizou a direção para fazer alguma coisa.”
Tonanni explicou que, desde 2014, foi estabelecida a regra que determinava o recolhimento da arma de qualquer policial que fosse afastado do trabalho por doença mental, como forma de prevenção. “Muitos questionaram essa medida, porque consideraram que há outros meios para se suicidar, porém é aquele minuto que faz a diferença. Se ele não tem a arma, não usa, e pode ser que depois consiga conversar com alguém ou que alguém perceba que não está bem. Isso faz a diferença entre a pessoa se matar ou não.”
O presidente do Centro de Valorização da Vida (CVV), Robert Gellert Paris Júnior, ressaltou que 90% dos casos de suicídio são evitáveis. Atualmente, são registrados 1 milhão de suicídios por ano em todo o mundo, número que Gellert considera subestimado. “O suicídio é um estigma, e as famílias não gostam de dizer que um parente se suicidou. Uma morte a cada 40 segundos é um problema de saúde pública porque pode ser evitado se tivermos os cuidados relativos a essa emergência.”
Gellert disse que a presença de alguém que se importe com a pessoa que está passando por problemas que podem levar ao suicídio é primordial, porque uma conversa pode mudar esse processo. “A saúde mental e emocional tem a ver com escolhas e saber que tem saída. Quando se está desesperado, não se enxerga mais nada. Por isso, é necessário falar sobre suicídio, já que esse milhão de pessoas morre por ano, e ninguém fala sobre isso.”
O presidente do CVV disse ainda que, no mínimo, 17% da população pensou ou vai pensar em se matar pelo menos uma vez na vida. “Não é uma anormalidade, é uma coisa que acontece na nossa vida. Às vezes, pensamos em desistir. É normal. E, se não tem com quem falar e não procura ajuda, a pessoa acaba se matando. O incentivo é para falar, e procurar ajuda porque o suicídio é evitáve.l.
Mais da metade dos casos ocorreu em apenas em cinco anos: entre 2010 e 2015, foram 24 suicídios e sete tentativas. Entre 1999 e 2004 foram oito casos e entre 2005 e 2009, dez. Entre 2002 e 2004 não foram registados casos, mas o destaque fica para o período de 2010 a 1014 no qual houve 22 suicídios, sendo que só em 2012 oito policiais tiraram a própria vida.
“O suicídio é algo muito sensível na área da segurança pública e a Polícia Federal é o serviço em que há mais casos. Falar na razão que leva a pessoa ao suicídio é complexo porque é um conjunto de fatores, mas, sem dúvida, no caso da Polícia Federal, tivemos perseguição e briga interna por cargos, e nós não temos plano de reestruturação dea carreira. Isso faz com que o profissional se desmotive e há também o assédio moral”, disse o presidente dos Sindipolf-SP, Alexandre Santana Sally.
Além disso, Sally destacou o risco inerente à profissão e a percepção da sociedade sobre o trabalho do policial. “Na época da repressão, [a PF] era um braço do governo e com a Constituição de 1988 começou a ocorrer uma renovação do quadro ao longo do anos. Houve uma evolução, e a polícia hoje não é somente repressora, e sim cidadã. [Tem papel] de proteção e prevenção, só que o cidadão ainda se atém à repressão e à tortura. Para nós, que estamos na rua, tem um reflexo emocional muito grande.”
Profissões de risco
Segundo o psiquiatra Roberto Tonanni de Campos Mello, que atua na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, médicos e policiais têm maior incidência de suicídio do que profissionais das demais categorias porque ambos têm os meios para fazer isso. “O médico sabe usar o remédio para acabar com a própria vida e os policiais têm a arma como um recurso fácil. Aqui na Polícia Federal houve uma série de ocorrências que mobilizou a direção para fazer alguma coisa.”
Tonanni explicou que, desde 2014, foi estabelecida a regra que determinava o recolhimento da arma de qualquer policial que fosse afastado do trabalho por doença mental, como forma de prevenção. “Muitos questionaram essa medida, porque consideraram que há outros meios para se suicidar, porém é aquele minuto que faz a diferença. Se ele não tem a arma, não usa, e pode ser que depois consiga conversar com alguém ou que alguém perceba que não está bem. Isso faz a diferença entre a pessoa se matar ou não.”
O presidente do Centro de Valorização da Vida (CVV), Robert Gellert Paris Júnior, ressaltou que 90% dos casos de suicídio são evitáveis. Atualmente, são registrados 1 milhão de suicídios por ano em todo o mundo, número que Gellert considera subestimado. “O suicídio é um estigma, e as famílias não gostam de dizer que um parente se suicidou. Uma morte a cada 40 segundos é um problema de saúde pública porque pode ser evitado se tivermos os cuidados relativos a essa emergência.”
Gellert disse que a presença de alguém que se importe com a pessoa que está passando por problemas que podem levar ao suicídio é primordial, porque uma conversa pode mudar esse processo. “A saúde mental e emocional tem a ver com escolhas e saber que tem saída. Quando se está desesperado, não se enxerga mais nada. Por isso, é necessário falar sobre suicídio, já que esse milhão de pessoas morre por ano, e ninguém fala sobre isso.”
O presidente do CVV disse ainda que, no mínimo, 17% da população pensou ou vai pensar em se matar pelo menos uma vez na vida. “Não é uma anormalidade, é uma coisa que acontece na nossa vida. Às vezes, pensamos em desistir. É normal. E, se não tem com quem falar e não procura ajuda, a pessoa acaba se matando. O incentivo é para falar, e procurar ajuda porque o suicídio é evitáve.l.
Edição: Denise Griesinger
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