“Pow”…Vou romper o que venho fazendo por hábito, pois esta luta dispensa qualquer introdução. Sobre o evento, limito-me a dizer que a historia cumpriu com o seu papel de espectador, em razão do que apresentou Lyoto Machida diante do publico do mundo inteiro…Uma verdadeira obra prima. Lyoto atuou como um poeta e foi incisivo como um arqueiro. Tal qual um verso solto da velha Renascença, pareceu lutar com a despretensão e a inocência de um jovem infante. Pois é… A sua arte (pois você não lutou), manifestou-se num outro ritmo. O tempo, obediente, atuou como um capataz…Fotografando seus movimentos, obedeceu o lirismo com que regia seu corpo – suave, harmonioso e preciso.
Os orientais de todo mundo devem reconhecer e dignificar o jovem paraense como um legítimo representante de sua arte. Mas como todo filho bonito pertence a vários pais, os ingleses, dignos criadores e representantes da nobre arte, também cobram reconhecimento de sua paternidade. Os camponeses suíços, relojoeiros artesãos, também ingressam interessados no prodígio, eis que o garoto prova a todo instante ter herdado a sua acuidade e precisão. E o senhor Yoshizo Machida? Ah, esse já compartilhou seu filho com o mundo. Sabe que a única propriedade que detém inexiste, pois o amor é livre. Por isso deve se orgulhar desta história, bem como deste que veste uma camisa de força e descreve esta hipotética fantasia.
Mitos devem propagar e evanescer sempre na lembrança de quem almeja todos os dias amar um amor diferente. E Lyoto, com toda a inocência e incoerência de um tempo que não é mais seu, merece ser amado. Com a caminhada categórica de um lorde, esbanja beleza em sua arte, diferente de todos os outros ensimesmados e denodados lutadores, pois a sua caminhada é diferente, o seu tempo é diferente, sua postura, seu olhar despreocupado, tudo! Não parecia encarar um dos 5 mais perigosos lutadores de sua categoria. Para nós, homens comuns, a sua postura irritava…Queríamos ver luta, porrada, sangue! Não, não! Um Lorde não sua, sequer suja a sua manga. O duelo entre cavalheiros apresenta-se, invariavelmente, elegante e limpo! Nem o tiro desferido, ousa enodoar a sua roupa. Sendo assim, mesmo infante, aparentava-se sob a serenidade e a sabedoria de um velho pensador e uma dissimulada preguiça em seus movimentos. Machida, entrava e saia do raio de seu adversário, como um magico ilusionista, sem que houvesse um toque, um contra golpe sequer. O momento foi todo para sí – o octógono apresentava-se como palco de sua atuação e o adversário, um reles quadro, disposto a emoldurar a sua arte.
Ryan Bader foi para lutar e foi enganado! Treinou como nunca em sua vida, mas foi traído! Bateu ponto como um funcionário obediente, carregava toda a obrigação dos pesados impostos nas costas e foi massacrado, humilhado! E Lyoto? Este não estava a trabalho, estava a serviço da arte! Ingressou ao octógono comprometido com o espetáculo, com a carência de seu público. Lyoto, diferente de Bader, estudou a vida toda. Seus pais, o senhor mundo e a digníssima Sra vida o ensinou que todo o obstáculo vem carregado de lição. Por isso, a cada derrota que a vida o impunha, estudava mais, aprendia mais. Bader, coitado, não podia compreender, pois só sabia o que todos sabiam. Só leu o que todos leram. Dó! Bem que tentou, mas sempre que ia, Lyoto sumia. O chamava a luta, Lyoto fazia pouco, mandava aparecer noutro dia. Bader cobrava! Lyoto desconversava. De tanto insistir, recebia alguns golpes trocados. Uma ninharia – alguns chutes frontais, um ou outro jab – o suficiente para um primeiro assalto e uma satisfação qualquer.
Mas Bader tinha família, sua mulher e filhos o cobravam postura de homem! Insistiam – volta lá e arruma uma luta de verdade! Queremos e merecemos respeito! Só volte para casa com uma luta decente, que seja capaz de pagar nossas obrigações com o mundo, ou nem ouse a por os pés de volta nesta casa! Lá foi ele, de antolhos e rédeas nas costas a empurrar seu fardo pelo segundo assalto. Pensou – agora esse baiano me da uma luta! Não vou aceitar trocados. Não sou ignorante, conheço meus direitos. Vou ter uma luta por bem ou por mal! Inciou o assalto e Hayan Bader voltou mais incisivo a caça de Lyoto. Desta vez cobrou-lhe como que munido de um poder de polícia, agia como “otoridade”, “dotôr”. Mas Lyoto, sempre a frente de seu tempo, mostrou suas obrigações pagas, seus golpes cumpridos. Mas Bader queria mais! Lyoto estranhava a postura de Bader. Será que queria suborno? Mais luta? Não, não vou dar! Já dei-lhe tudo que tinha, não sou de esbanjar. Por isso minhas obrigações são pagas e não devo um “puto” sequer. Não adiantava…Bader estava alterado, parecia outra pessoa, com os olhos avermelhados, vidrados: o agredia, xingava-o, era mais incisivo. Estava querendo impressionar a mulher, os filhos, ao público. Por isso nem pediu licença, saiu entrando com golpes retos, sem modos, correndo atrás de Lyoto. Queria uma satisfação, algo a mais, estava cego! Lyoto inclinou a cabeça para o lado, de soslaio, como quem dizia, vem não! Não provoque “bichinhu”, não entre em meio raio de ação não, “vice”! Esta é de minha “propriededi”! “vixe”! Mas de nada adiantou…Bader, como um cavalo, arrombou-lhe a porta de sua intimidade e foi agredi-lo, buscar luta…E recebeu…um potente direto em contra golpe o levando a nocaute, estatelando-se o corpo, já defunto, ao chão…Pagando assim, todas as dívidas: sua e de sua família, de seu publico… Assim como a de Lyoto, com a historia.
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